Coronavac ainda é uma boa opção de vacina, diz novo diretor do Butantan

Foto: Divulgação

O novo diretor do Instituto Butantan, o infectologista Esper Kallás, afirma que a Coronavac continua sendo ótima opção de vacina contra a Covid, mesmo com a oferta do reforço do imunizante bivalente da Pfizer anunciada pelo Ministério da Saúde para a partir de 27 de fevereiro. 

“Ela é muito bem tolerada, imunogênica, extremamente segura e tem uma aceitabilidade muito boa”, afirmou à reportagem Kallás, que assumiu a direção do instituto no início de janeiro, após se licenciar do cargo de professor titular da Faculdade de Medicina da USP. 

O Ministério da Saúde planeja usar a vacina produzida pelo Butantan –e criada pelo laboratório chinês Sinovac– apenas para o público infantil, de 3 a 11 anos. A pasta anunciou ter assinado um aditivo de contrato com o instituto para adquirir um total de 2,6 milhões de doses. 

Nesta segunda (30), Kallás se reunirá com o ministério para discutir, entre outras coisas, o interesse da pasta em eventuais novas aquisições. Ele defende que a Coronavac, que foi a primeira vacina a ser aplicada no país na pandemia, em janeiro de 2021, continua sendo uma boa alternativa também para os adultos. 

“Há uma discussão muito grande sobre a alternância de produtos para dar um estímulo na resposta [imunológica], o que aumenta os títulos de anticorpos. Numa situação como essa da Covid, em que tudo é instável, ter todas as cartas na mesa é um boa estratégia para não correr o risco de desabastecimento.” 

Segundo o infectologista, todas as doses produzidas pelo Butantan de Coronavac já foram entregues ao ministério. Como no governo Bolsonaro não havia perspectiva de novas aquisições, o instituto decidiu esperar a mudança de pasta para organizar novas importações do IFA (ingrediente farmacêutico ativo), a matéria-prima da vacina. 

Kallás diz que é preciso um esforço dos governos federal, estaduais e municipais para aumentar a cobertura vacinal contra a Covid. “Com a redução do número de casos, houve uma certa acomodação. Mas é possível fazer um resgate com ações que chamem atenção.” 

Um outro caminho, segundo ele, é trabalhar as desigualdades regionais, uma vez que alguns municípios têm alta cobertura vacinal e outros não atingiram 50% do público-alvo. 

Para o diretor, a relação do governo estadual, de Tarcísio de Freitas (Republicanos), com a atual gestão federal, de Lula (PT) tem tudo para ser “muito boa”. “A visão do governo estadual e do governo federal é muito consonante em relação ao resgate das coberturas vacinais e a prevenção das doenças imunopreveníveis.” 

Durante a pandemia, o Butantan se viu no centro de uma disputa política entre o então governador de São Paulo, João Doria (que era do PSDB), e a gestão de Jair Bolsonaro (PL). 

Recentemente, o instituto voltou a ser alvo de polêmica, dessa vez envolvendo suspeitas de irregularidades na sua fundação de apoio, atualmente gerida pelo ex-diretor do instituto e atual presidente da Fundação Butantan, Dimas Covas. 

Entre as suspeitas está o possível superfaturamento de R$ 161 milhões em contrato feito sem licitação com uma empresa de software, investigado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), conforme revelou a Folha de S.Paulo. 

A Fundação Butantan é uma entidade privada sem fins lucrativos que tem como objetivo administrar os recursos financeiros do instituto, obtidos principalmente pela venda de vacinas e soros ao Ministério da Saúde. Em 2020, primeiro ano da pandemia, a receita da fundação saltou de cerca de R$ 1,9 bilhão, em 2019, para mais de R$ 2,7 bilhões em 2020, segundo divulgação do balanço financeiro da entidade.

Kallás defende o modelo da fundação por dar celeridade administrativa e financeira, inclusive para a contratação de pesquisadores, e diz que, a partir de uma aliança estratégica aprovada em novembro passado, a ligação entre o instituto e a fundação estará mais estreita e haverá mais transparência na utilização dos gastos. 

Ele afirma que também já convidou o presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Dimas Ramalho, a fazer uma visita à fundação para para discutir termos de conduta também visando mais transparência às relações. 

Os gastos da fundação devem ser empenhados em atividades de interesse do instituto, como em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. O governo Doria, no entanto, utilizou do superávit dessa receita para compras relacionadas à pandemia da Covid, por exemplo na compra de insumos e equipamentos hospitalares, que em tese são de responsabilidade do governo do Estado. 

Kallás afirma que o principal ponto de apoio da fundação em relação ao instituto é na contratação de funcionários para expansão do centro de produção de vacinas e na capacitação de mão de obra, uma vez que novas contratações pelo governo estadual estão paralisadas. 

Entre os projetos de expansão do instituto estão a reforma e readequação do prédio para produção da vacina contra dengue, que está em fase final de estudos clínicos, e da preparação para obtenção da licença de boas práticas de manufatura da fábrica de vacinas multipropósito (também chamada de CMPV), cuja obra foi finalizada em março de 2021 após mais de seis meses de atraso. 

Atualmente, o maquinário da fábrica está em fase de testes para entrar com a solicitação junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para começar a produção das primeiras doses no centro.

“A construção de uma fábrica é um projeto grande, que depende dessa relação entre a fundação e o instituto, com muitos profissionais associados”, disse.

*Bahia Notícias

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