Luciano Araújo: “Se a reeleição na Assembleia for algo viabilizado, iremos até o fim com Adolfo”
Presidente do Solidariedade na Bahia, o deputado estadual Luciano Araújo nega, nesta entrevista, que o prefeito Bruno Reis (União) tenha tido êxito na tarefa de esvaziar o partido em Salvador. Evitando críticas mais duras ao ex-aliado, o parlamentar admite que as articulações do Palácio Thomé de Souza foram intensas, mas assegura que a sigla vai eleger ao menos um representante na Câmara Municipal. Reforça, ainda, o apoio à pré-candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB).
Luciano Araújo acredita que alianças com a oposição no interior no pleito de 2024 não irão afetar o relacionamento com o governador Jerônimo Rodrigues (PT), a quem elogia o tratamento dispensado ao Solidariedade e ao G8, bloco informal de oito parlamentares do qual faz parte na Assembleia Legislativa. Ele reivindica, inclusive, um espaço para o grupo no governo.
O presidente do Solidariedade declara, ainda, apoio à reeleição do atual comandante da Assembleia Legislativa, o deputado Adolfo Menezes (PSDB). Ele pontua que será fácil para o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT), emplacar o próprio nome à sucessão da Casa.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Depois das articulações dos aliados do prefeito Bruno Reis para tirar pré-candidatos do partido, o Solidariedade vai conseguir eleger algum vereador em Salvador?
Vamos trabalhar para eleger um e se tiver uma surpresa muito favorável podemos fazer dois. Mas a nossa expectativa real é de um vereador na capital. Montamos uma lista de candidatos com todos em condições de igualdade, sem puxador de votos. Temos candidatos de até cinco mil votos. Alguns ex-vereadores, lideranças, gente como o professor Jussilvio Pena, que foi candidato a deputado estadual e teve quase nove mil votos. Ele, inclusive, assumiu a presidência do Solidariedade em Salvador. Se não fosse toda essa pressão do prefeito Bruno Reis, nós iríamos crescer bastante e eleger até quatro vereadores.
“Queriam nos destruir por completo, com o uso dos partidos do entorno da Prefeitura, mas montamos uma chapa de candidatos a vereador.”
Toda essa ação do Palácio Thomé de Souza e dos partidos da base de Bruno Reis é o preço que o Solidariedade está pagando por ter deixado a base de Bruno Reis para apoiar o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e a candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) na capital?
Eu acho que é porque a Prefeitura não admite perder quatro vagas para um partido pequeno. E eles entraram em campo e fizeram atuação muito forte com isso. Levaram peças importantes do nosso xadrez, mas procuramos resistir, não baixar a cabeça, e continuamos com o mesmo discurso e o mesmo propósito. Queriam nos destruir por completo, com o uso dos partidos do entorno da Prefeitura, mas montamos uma chapa de candidatos a vereador. Estamos na luta.
Um dos que deixaram o Solidariedade foi o até então ex-presidente do partido em Salvador, o ex-vereador Adriano Meirelles, que vinha montando o partido. Como o senhor avalia essa decisão dele?
Adriano é, como pessoa, meu amigo. Não vou fazer nenhum tipo de protesto contra a pessoa dele. Só acho que, no campo político, ele perdeu mais do que ganhou. Aqui no Solidariedade ele tinha um mandato garantido de vereador. Do lado de lá, da Prefeitura, no partido para onde ele foi, ninguém sabe. Mas cada um faz o que acha melhor. Fizeram aí de tudo para que o Solidariedade não crescesse na capital, com cresceu na eleição para deputado estadual em 2022. E estamos crescendo na Bahia agora nas eleições de 2024. Viramos uma alternativa para políticos que desejavam migrar para a base do governador Jerônimo, e isso desagrada muito o prefeito e o ex-prefeito (ACM Neto, do União Brasil). Nós incomodamos. E olha que crescemos sem pressionar ninguém a vir. Somos procurados.
O Solidariedade em Salvador chegou a cogitar de fato uma candidatura própria a prefeito?
Existiu uma proposta colocada na mesa, defendida por Adriano Meirelles, que nós analisamos. Mas não era uma proposta interessante para o partido. Para você ter candidato próprio, é preciso ter estrutura, recursos, fundo partidário para gastar. E o partido ainda não estava preparado para isso. Além disso, acatamos, no conselho político do governador, a decisão de apoiar Geraldo Júnior. E decidimos respeitar isso, essa aliança.
“Ele (Bruno Reis) nunca nos deu um telefonema antes de tirar da Prefeitura todas as pessoas ligadas ao Solidariedade”.
Dissidentes do Solidariedade, como o próprio Adriano Meirelles, disseram que Geraldo Júnior nunca ofereceu nada ao partido em troca desse apoio…
Nós temos uma boa relação com Geraldo Júnior, que foi vereador do partido. Ele tem mantido um diálogo positivo conosco, inclusive nessa questão da montagem da chapa de candidatos a vereador. Não tenho dúvidas de que seremos parceiros na construção dessa caminhada. Já com Bruno Reis o processo foi diferente. Ele nunca nos deu um telefonema antes de tirar da Prefeitura todas as pessoas ligadas ao Solidariedade. Nunca procurou o partido para conversar depois que decidimos, em 2023, apoiar o governo Jerônimo porque era a melhor decisão para ajudar as nossas bases eleitorais no interior. O governador nos trata bem, somos bem recebidos, e isso não ocorreu na Prefeitura.
Mas o outro deputado estadual do Solidariedade, Pancadinha, está na oposição.
Respeitamos a decisão dele. Além do mais, ele tinha o desejo de ser candidato a prefeito de Itabuna nesse campo da oposição, onde podia construir esse espaço, e estamos ao lado dele. Não somos donos do mandato e nem da vida de ninguém. Não ficamos impondo nada.
A exemplo de Itabuna, o Solidariedade vai ter candidaturas a prefeito contra nomes da base de Jerônimo. Isso pode abalar o relacionamento do partido com o governador?
O governador entende que precisamos ficar ao lado dos candidatos do Solidariedade. Temos projetos e questões municipais. Em Itabuna, Pancadinha reuniu ao seu lado partidos da oposição, de fato, como o União Brasil. Mas há outras situações. Em Barreiras, teremos como candidata Doutora Graça, a vereadora mais bem votada do município e que foi candidata a deputada estadual em 2022, com um resultado bastante expressivo – e, se eleita, ela será prefeita dentro da base do governador. Em Jacobina, nosso candidato, o ex-prefeito Leopoldo Passos, embora enfrentando duas candidaturas da base governista na cidade, também pretende ser aliado de Jerônimo. Enfim, acredito que na maioria das cidades do interior onde tivermos candidatos, e citei apenas as maiores, teremos quadros que desejam se aproximar cada vez mais do governo. Mas o fato é que os partidos também buscam os seus espaços e haverá disputas locais, inclusive dentro da base.
Em Conceição do Coité, o Solidariedade vai apoiar a reeleição do prefeito Marcelo Araújo, que é do União Brasil. Isso pode?
Isso não prejudica a nossa relação com o governo. O governador sabe que eu, como parlamentar, não posso ser contra quem é do nosso partido e também não posso ser contra quem me apoiou para deputado, como foi o caso de Marcelo. Coité é um caso a parte. Lá, inclusive, vamos indicar o vice na chapa e temos três vereadores. Não tenho como ir contra.
“Eu acredito, pelo que ouço dos colegas, que os deputados preferem uma presidência da Assembleia mais independente em relação ao partido e ao Executivo.”
O senhor apoia mais uma reeleição do presidente da Assembleia, deputado Adolfo Menezes (PSD)?
Com toda certeza. Fui, inclusive, um dos primeiros a declarar apoio a Adolfo, que tem sido um presidente muito correto com todos nós da Casa. Se a reeleição for algo viabilizado, iremos até o fim com Adolfo. Caso contrário, vamos analisar quais serão os nomes colocados para definir, afinal a eleição da Mesa Diretora só acontece em fevereiro de 2025. Mas estamos com Adolfo, sim, e esse é o sentimento de quase toda a Assembleia.
O senhor apoiaria um nome do PT, caso não seja Adolfo?
O PT quer essa presidência. O líder do governo, deputado Rosemberg Pinto, que é do PT, tem se colocado a todo tempo. É um direito dele e de qualquer parlamentar na Assembleia. Mas eu acredito, pelo que ouço dos colegas, que os deputados preferem uma presidência da Assembleia mais independente em relação ao partido e ao Executivo.
O líder da oposição, Alan Sanches (União), critica o governador com frequência pelo não pagamento das emendas impositivas. O senhor concorda?
Não tenho do que reclamar do atendimento do governador. Eu participo do bloco informal do G8, com oito parlamentares, sendo que sete não votaram com o governador nas eleições de 2022, mas, mesmo assim, o tratamento tem sido bom. No nosso grupo, o que vale para um tem que valer para todos, e somos bem unidos nesse aspecto. Sobre as emendas, para nós elas começaram a ser pagas agora.
“Em muitas votações apertadas na Assembleia, temos tido uma presença decisiva para aprovar as matérias do governo.”
O G8 pretende reivindicar um espaço no primeiro escalão ou segundo do governo?
Nunca sentamos para solicitar isso. Seria bem merecido o G8 ter uma participação, já. Afinal, as coisas têm acontecido. Em muitas votações apertadas na Assembleia, temos tido uma presença decisiva para aprovar as matérias do governo. Sem o nosso apoio, muitas coisas não passariam.
*Política Livre
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