Em Salvador, Lula já mandou avisar que não mete mão em cumbuca

Foto: Arquivo

A julgar pelas declarações do presidente Lula (PT) ao apresentador Mário Kertész, da Rádio Metrópole, esta semana, seu envolvimento na campanha municipal de Salvador será mais discreto do que o que seus aliados responsáveis pela candidatura à Prefeitura do emedebista Geraldo Jr. gostariam. Não porque o conheça e faça reparos à figura do candidato que arranjaram para ele apoiar na capital baiana. Lula tem claro que só deve se envolver nas disputas municipais movidas pela polarização com o bolsonarismo, a qual calcificou-se no país, no muito apropriado dizer do historiador Alberto Aggio, com tudo de ruim que o quadro traz para a Nação.

É o que acontece na capital de São Paulo, na qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT) resolveu tomar partido e Lula decidiu cooperar abertamente com o candidato que, embora também não pertença à sua sigla, considera mais forte para derrotar o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). “A disputa é entre o governo que coloca o povo em primeiro lugar e o governo das fake news”, declarou o presidente, observando que sua participação na sucessão municipal vai depender de cidade por cidade. “Na capital de São Paulo, é uma coisa muito especial, porque há uma confrontação direta entre eu e o ex-presidente”, confirmou.

De saída, é uma postura que parece ajudar Bruno Reis (União Brasil), ainda que a história, em Salvador, mostre que o envolvimento de Lula seja insuficiente para mudar o quadro eleitoral, hoje abertamente favorável ao prefeito. Em Salvador, tanto ele quanto seu antecessor e mentor político, ACM Neto (União Brasil), souberam se manter bem distantes de Bolsonaro, apesar das pressões que o segundo, sobretudo, enfrentou para aliar-se a ele na campanha de 2022. Mas Bruno ainda tem outra vantagem. Como protagonista da disputa, está livre da carga ideológica, simbólica e política que opõe Neto ao presidente e ao PT.

Há muito tempo, o prefeito circula sem constrangimentos entre petistas como Jaques Wagner e o próprio Lula, que não raro se referem a ele positivamente. A Wagner, com quem costuma se divertir quando se encontram, já chegou a apelar que a ex-primeira-dama, Fátima Mendonça, fosse sua vice, ao tomar conhecimento de que Geraldo Jr. tinha planos de atraí-la para sua chapa. O senador, segundo os presentes, riu para se acabar. Além disso, meio mundo na Bahia está cansado de saber que prioritárias para os petistas são as disputas em Feira, Camaçari, Conquista e Lauro de Freitas, por questões tanto de estratégia quanto de chance eleitoral.

Portanto, ao candidato do MDB restará contar na Bahia com o apoio do governador Jerônimo Rodrigues, o que, aliás, não é algo que se despreze. Em meio aos estilos, bonachão de Wagner, e carrancudo de Rui, Jerônimo tem sabido se movimentar de maneira genuína, com desembaraço em todas as áreas, mostrando que já encontrou o próprio caminho na segunda etapa de gestão de continuidade do petismo no Estado. Trata-se de um espaço que tem conquistado com uma mistura de simplicidade e capacidade de entender a dinâmica popular que surpreende os próprios aliados. É candidato a fazer história se conseguir repassá-la a postulantes menos acreditados, como Geraldo Jr.

*Política Livre

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